Na novela global "Amor à vida",o casal Lutero e Bernarda, interpretados pelos atores Ary Fontoura e Natália Timberg, tem dado o que falar. Ambos são idosos e cultivam um romance no folhetim de Walcyr Carrasco. O casal, aliás, já teve até a sua primeira noite de amor. Quem ficou espantado com o sexo na velhice foi Félix (Mateus Solano) e Pilar (Susana Vieira), ambos neto e filha de Bernarda. Como assim minha avó ou mãe já idosa pode fazer sexo? O fato é que a vida sexual na velhice ainda é considerada um tabu na sociedade.
A antropóloga Mirian Goldemberg, que estuda o comportamento de homens e mulheres há mais de 25 anos, explica que a forma como a pessoa viveu o sexo ao longo da vida influencia a forma como o sexo será na terceira idade. "Quem sempre gostou provavelmente vai querer continuar exercendo a sexualidade. Muitas mulheres que não gostavam talvez vivam a velhice como uma fase em que podem se aposentar deste aspecto da vida. É o que muitas dizem: que podem focar em outros prazeres e não no sexo, elas não sentem falta. Portanto, depende muito do peso que o sexo teve em outras fases da vida", diz Mirian, que lançou recentemente o livro "Bela Velhice" (Ed. Record).
Para a psicóloga especialista em sexualidade Juliana Bonetti, a velhice não é o fim do erotismo e da vida sexual. "Existem vários relatos clínicos de pessoas mais velhas que possuem uma vida sexual intensa e vibrante. Isso porque se valoriza muito mais a juventude do que a maturidade quando o assunto é sexo, mas o idoso tem relação sexual sim, idoso se masturba sim e pode proporcionar sim muito prazer à sua parceria", explica Juliana.
Mas, então, por que sexo ainda é considerado um tabu na velhice? O sexo tem pesos diferentes para eles e elas? A velhice traz a perda da libido? A pílula "azul" revolucionou no sexo na terceira idade? Conversamos com alguns especialistas para explicar alguns temas ainda tão caros na relação sexo e terceira idade.
'Sociedade costuma enxergar na terceira idade o fim do erotismo'
Para a antropóloga Mirian Goldenberg, que pesquisa há mais de 25 anos o comportamento de homens e mulheres brasileiros, a sociedade costuma enxergar na terceira idade o fim do erotismo por preconceito.
'As pessoas acreditam que a velhice é uma fase de ausência de desejos, de vontades, de abandono. Na verdade, continuamos sendo quem sempre fomos, muitas vezes até mais livres do que somos. Velho é sempre o outro. No entanto, velho somos nós, hoje ou amanhã. Se todos pensarem assim, vão enxergar outras possibilidades na velhice. Os velhos descobrem inúmeras possibilidades na vida, em todas as áreas, inclusive sexualmente', opina.
O sexo na velhice tem pesos diferentes para homens e mulheres?
Para a pesquisadora, os homens são, em geral, mais livres para exercer a sexualidade em todas as fases da vida inclusive na velhice. 'Por isso, eles se preocupam mais com a continuidade da vida sexual na velhice do que as mulheres', opina Mirian. Para a psicóloga especialista em sexualidade Juliana Bonetti, o lugar reservado para a terceira idade na sociedade é pouco valorizado e repleto de inverdades principalmente em relação ao sexo.
'Existem vários relatos clínicos de pessoas mais velhas que possuem uma vida sexual intensa e vibrante. Isso porque se valoriza muito mais a juventude do que a maturidade quando o assunto é sexo, mas o idoso tem relação sexual sim, idoso se masturba sim e pode proporcionar sim muito prazer à sua parceria', analisa Juliana.
O desejo sexual diminui com a idade?
Se esse desejo sexual vai ou não diminuir com a idade, a psicóloga Juliana Bonetti explica que depende de como cada pessoa lida com a passagem do tempo e que o desejo sexual é algo muito subjetivo por mais significativas que sejam as mudanças no corpo e no organismo.
'Há pessoas com intensa volúpia de vida, que não vão se abalar com o passar dos anos e nem com a chegada da velhice. Muito pelo contrário, saberão tirar proveito e encontrarão soluções para possíveis problemas. No entanto, há sim limitações que podem impedir uma vida sexual sadia e constante, mas estas, em sua maioria, são de ordens emocionais', explica a psicóloga.
Essa redução do desejo sexual por questões emocionais pode ocorrer devido à entrada em novo ciclo de vida e as mudanças de vários setores que precisam ser administrados. 'Os filhos que vão embora, o corpo que já está esteticamente diferente, algumas limitações corporais impostas pela idade, entre outras questões', completa.
A velhice traz a perda total da libido?
A sexóloga e ginecologista Carolina Ambrogini, coordenadora do Projeto Afrodite, centro de sexualidade feminina do Departamento de Ginecologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), explica que há sim uma diminuição da libido na velhice principalmente nas mulheres, mas não são todas as pessoas que apresentam essa queda. Isso ocorre porque há uma diminuição progressiva dos níveis de testosterona em homens e mulheres.
'O desejo sexual pode diminuir, mas isto não representa a maioria das pessoas. Estudos mostram uma queda de 30% nas mulheres. As limitações podem ser físicas, por doenças crônicas como o diabetes e uso de medicações que acabam por causar efeitos negativos na sexualidade. Os relacionamentos de longo prazo representam o maior desafio e manter o desejo aceso pela mesma pessoa por muitos anos é a grande dificuldade', opina.
Relações sexuais na velhice ganham em qualidade
A sexóloga ressalta que a sexualidade não é composta apenas de hormônios e que se o relacionamento estiver bom e instigante e a pessoa estiver bem consigo mesma, a libido vai existir. 'O que acontece é que as relações se tornam menos frequentes, mas com mais qualidade. Se o idoso ou idosa for solteiro, pode apostar que, ao se apaixonar, a libido vem com tudo mesmo que ele tenha 90 anos. As dificuldades do envelhecer podem ser contornadas facilmente com boa orientação médica e também dos parceiros', opina Carol.
A pílula 'azul' revolucionou o sexo na terceira idade?
Sim, segundo Carolina Ambrogini, pois a disfunção erétil é uma realidade que aumenta na população de homens mais velhos. 'Os medicamentos para este problema são muito eficazes e têm poucos efeitos colaterais. Desta forma, o homem passa a se sentir mais seguro para manter relações com sua parceira', aponta a sexóloga.
Para Juliana Bonetti, o azulzinho significou uma revolução porque facilitou na obtenção de ereção, mas a pílula azul não faz milagre. 'A pílula facilita a vida sexual, mas não resolve todos os problemas. Por exemplo, por mais que ajude na ereção, não vai funcionar se o homem não sentir desejo sexual pela parceira que irá fazer sexo com ele', explica a psicóloga.
Apesar disso, ressalta Mirian Goldenberg, o 'azulzinho' como revolução na vida sexual na velhice não encontra paralelo com a revolução que a pílula anticoncepcional significou uma revolução para a mulher.
'Não tem o mesmo peso, pois a pílula significou uma libertação muito grande para as mulheres. Elas puderam separar sexo de maternidade, puderam viver mais plenamente a própria sexualidade. A pílula azul significa que os homens podem (se quiserem) ter uma vida sexual mais ativa na velhice. É importante, mas não tem o mesmo impacto social', explica a antropóloga.
Exercício físico e o hormônio do prazer
Os exercícios físicos estimulam e aumentam a libido. Isso porque quando nos exercitamos produzimos mais o hormônio do prazer, a endorfina. A atividade física é essencial na terceira idade para prevenir várias doenças e fraturas. 'É importante também para deixar o corpo mais bonito porque existe uma tendência natural de ganhar peso e diminuir a massa muscular. Indiretamente, o exercício físico também melhora a sexualidade', diz Carol.
Pompoarismo para elas
O pompoarismo é uma atividade que faz muito bem à mulher de qualquer idade. Quem garante o sucesso da prática é a Personal Sexy Karina Brum. 'Além de exercitar a musculatura do assoalho pélvico, os movimentos excitam, estimulam e prolongam a saúde do órgão feminino. Vale muito a pena conhecer estas manobras que tornam muitos casais e mulheres em pessoas mais realizadas e felizes', diz Karina.
Literatura erótica para ambos
Outra recomendação da especialista é tanto homens e mulheres investirem na leitura erótica. Em tempos de '50 Tons de Cinza', explica Karina, a leitura induz e conduz a mulher e o homem a outro nível de excitação e imaginação e não há idade para começar e nem terminar de ler tal tipo de livros.
'A leitura torna cada leitor capaz de fantasiar qualquer situação que lhe seja agradável de forma lúdica e satisfatória. O que deve ser respeitado aqui é o fator mobilidade. O sonho, a fantasia de cada um pode envolver roupa, local, posição ou situação diferente. Temos limites, às vezes brandos ou rígidos, mas quem dita a regra do jogo deve reconhecer seu corpo e suas limitações', aconselha a Personal Sexy.
Autoconhecimento em qualquer idade
Existem no mercado erótico, e claro, nas melhores boutiques sensuais do Brasil, produtos de qualidade e com potência arrebatadora como géis funcionais, lubrificantes comestíveis, coisas que proporcionam às mulheres da terceira idade um orgasmo intenso. Estes produtos em geral, explica Karina, têm o poder de aumentar a irrigação sanguínea da área íntima (e sim, também existe para os homens), dando uma sensação de calor e potencializando a sensibilidade e lubrificação vaginal.
'Lembramos que sempre é bom usar produtos que tenham registro na ANVISA e que sejam testados dermatologicamente. Estes produtos são tópicos e devem ser passados na área externa da região íntima. Mesmo que você neste momento esteja sem parceiro, sempre indicamos o autoconhecimento e a utilização de brinquedos adultos', recomenda Karina Brum.
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