Entre os anos de 2010 e 2011, sucessivos ataques atingiram jovens homossexuais na Avenida Paulista , no centro paulistano. Gratuitas e revoltantes, as agressões serviram de ponto de partida para o jornalista e escritor paulista Alex Francisco, 25, escrever o livro “A Visita”, lançado no último fim de semana na Bienal do Livro do Rio de Janeiro.
Em forma de peça de teatro, o texto explora a ideia de como o preconceito e a intolerância podem funcionar como combustíveis para reações violentas como as da Paulista.
“Os agressores modificaram as vidas de suas vítimas”, aponta Alex, ressaltando o peso que os ataques tiveram na vida dos agredidos, que foram afetados de maneira definitiva.
No entanto, o preconceito e a intolerância nem sempre se manifestam de maneira tão explícita. “É isso que Dalmo e Tales, os protagonistas de “A Visita”, sofrem o tempo todo. Eles começam a viver uma história como casal, mas estão em uma sociedade que tenta convencê-los, por pura ignorância, de que o amor gay não é possível”, analisa Alex, mencionando os personagens de sua obra.
Grande parte da peça acontece numa prisão, na qual Dalmo cumpre pena, injustamente, por um assassinato que não cometeu. É lá que o seu namorado Tales vai visitá-lo. “A cela é o momento que eles têm, longe da pressão social, para analisar como foi a vida deles até aquela situação de confinamento”, explica o autor.
Homossexual, Alex não nega os traços autobiográficos da peça, a terceira que ele escreve. “É uma declaração ao grande amor da minha vida. Não estamos juntos, atualmente, pois se trata de um amor impossível”, conta Alex. “Com o livro, eu queria dizer que ainda o amo, não importando a distância”, completa ele.
Alex admite ainda que trouxe situações de sua vida pessoal para a “A Visita”. “Quando o Tales mentiu para o pai dizendo que Dalmo era um colega do trabalho e não seu namorado. Eu fui o Dalmo nessa situação e não queria que minha futura sogra, no caso, tivesse motivos para não aceitar minha relação com o filho dela”, exemplifica.
O autor busca agora um produtor e um diretor interessados em encenar a sua peça. Ele tem até em mente os atores que gostaria de ver interpretando o casal gay criado por ele. Os escolhidos seriam J oão Gabriel Vasconcellos , do filme “Do Começo ao Fim”, e Maurício Destri , da novela “Sangue Bom”, exibida atualmente pela Rede Globo. “Vejo o Vasconcellos na pele do Dalmo, e o Destri, na do Tales”.
Aos 25 anos, Alex cita dois autores que influenciam o seu trabalho. “Em Machado de Assis busco a submissão, a resistência e a visão de sociedade. Já em Eça de Queiroz , as fatalidades e o quanto elas arrebatam o homem a lugares inabitados”, assinala.
O trabalho do romancista britânico Alan Hollinghurst também o influencia, especialmente o romance “A Linha da Beleza”. Retrato da juventude yuppie dos anos 80, o livro tem um personagem que Alex gostaria de ter escrito, o jovem Nick Guest.
“É um personagem que parece estar à margem do seu antagonista, mas que calmamente espera pelo momento de virar a mesa”, conclui.
VIA
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